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15.8.10

Retrato mórbido de uma genética familiar.

(06/11/2006)


O meu avô morreu de infarto.
O meu pai morreu do coração.
E também do rim, e do AVC.
E a minha tia? Ela morreu de câncer.

Agora, dado certo fôlego ao tempo,
aparece mais um:
o tal do alzheimer.

Seria genético?
Pura velhice?

E se pergunta por aí:
uau, o que se anda comendo,
que tanto faz mal ao povo?

E eu aqui, querendo saber:
será tudo genética?
ou o acaso há de explicar algum dia?

6.8.10

Dia dos Pais

Há alguns anos eu escrevi um texto sobre o Dia dos Pais. Na verdade, sobre meu pai, sua morte, e minha vida antes e depois disso. Eu já tinha me esquecido do texto, quando minha mãe, querida, lembrou-me dele, dizendo que gostaria de publicá-lo no jornal de minha cidade. Cá estava eu então de novo em contato com meu próprio texto, com minha lembrança. Talvez eu mudaria algumas coisas daquela escrita, mas resolvi preserva-la assim como a concebi, e trago-a para este blog. Foi nele que, há alguns anos, eu o apresentei.

12/08/2006



Todo ano é assim. Não, não. Nem sempre foi assim. Há cerca de 10 anos atrás, a data era conhecida, celebrada e era só. Eu reconhecia o potencial econômico do período, mas lembrava o Dia dos Pais com carinho. Algumas vezes a data coincidia com meu aniversário e então a alegria estava feita. Era um orgulho, um gosto. Um capricho do tempo.
Mas veio a doença e o medo da perda, e com ela a tentativa de reversão de uma tristeza quase constante no olhar. Era preocupação, tensão; era medo, era desgaste. E tudo isso vinha misturado com paciência, calma, vontade de vencer a maldita fisiologia. Um sufoco revestido de momentos de risos, de luta, de perseverança de alguém que estava cercado dos seus. Cercado daqueles que traziam em suas entranhas a marca daquela existência inteligente, forte.
A morte, porém, quando chega para levar essa marca viva da gente, tira a tensão da doença - essa sensação de vida na corda bamba - mas coloca outros sentimentos no lugar. É saudade, é amargura, é tristeza profunda. E é tudo egoísmo. Não é pelo outro que se chora, senão pela dor que essa ausência causa no coração daquele que fica.
E nunca mais os dias foram os mesmos, porque quem foi deixou tanta saudade, e tanta marca, que não há forma possível de viver, senão na consideração da perda. Durante muito tempo, não se acrescenta, é a subtração que acompanha. O telefone, quando toca, não traz a voz que se quer ouvir. O estímulo, quando vem, não é do que representava tanto. Do que ajudava tanto. E do que se orgulhava com cada conquista sua.
A superação dessa subtração tarda. Mas vale a pena. E é isso que fica de bom da morte. Sabe aqueles sentimentos imediatos que vêm dela? Se aquele que partiu deixa marca, é dessa marca que vem a superação, não há como não tirar proveito disso tudo. 
Agora, fica então a saudade. Mas também a força para continuar lutando. Foi dessa força que refiz contatos, construi e revi amizades, conceitos, pessoas, cores, gostos. Foi dessa força que escrevi minha dissertação de mestrado, e também um projeto de doutorado. É por essa marca forte, vibrante, que persigo meus ideais e construo meus longos descaminhos. Meu riso, meus desvaneios. A mudança de postura com relação aos que me cercam. No que compete à convivência e no que compete à ausência. E é isso que fica, quando tudo se esvai. E é disso que se lembra quando outros ganham importância na vida da gente.
Parabéns, pai.